terça-feira, 12 de dezembro de 2017

MERGULHANDO EM PROVÉRBIOS #4 – Onde e como encontrar a sabedoria?

            Onde e como encontrar essa sabedoria tão falada de Provérbios? A resposta dessa pergunta pode parecer bastante óbvia e fácil de ser respondida, mas vamos dar um mergulho no texto bíblico para ver quão profunda é essa resposta que a Palavra nos mostra. Para isso, nos concentraremos no texto do capítulo 30, versículos 1 a 6. Aqui não são mais palavras de Salomão, mas sim de Agur (v. 1). Este capítulo nos revela nas entrelinhas a preciosidade da humildade[1], vemos nas palavras do autor esse valor bem expresso, o que é muito importante ao ser humano para que possa responder ao questionamento do nosso texto.

            O comentarista bíblico Bruce K. Waltke diz que Agur nos apresenta uma escada com cinco degraus para responder nossa pergunta[2]. Tomaremos essa analogia emprestada. O primeiro degrau, baseado nos versículos 2 e 3, é uma confissão sincera e honesta por parte do ser humano de que temos fracassado em descobrir a forma como devemos viver, isto é, que por nós mesmos e por nossas forças não alcançamos a plenitude. Significa reconhecer que algo nos falta.

O segundo degrau, que se parece com primeiro, está no versículo 4. Note que esse versículo lembra muito o texto de Jó 38, que coloca o ser humano em seu devido lugar, pois não temos condições determinar uma verdade absoluta. Isso é colocado com as quatro perguntas sobre “quem” tem o conhecimento de todas as coisas. Aqui se encaixa o que falamos anteriormente da humildade na vida do ser humano, sem essa humildade não é possível reconhecer e viver os dois primeiros degraus. Entretanto, se pararmos aqui nesse ponto, podemos cair no engano dos nossos dias onde pessoas têm dito por aí a fora que “não existe uma verdade absoluta, pois cada um tem sua verdade”, mas isso não passa de uma visão diabólica e incompleta sobre as coisas. Veremos agora que Agur continua subindo os degraus.

O terceiro começa a dar uma luz aos olhares humanos. Se temos nos dois primeiros uma conclusão de que somos incapazes, a partir de agora começa-se a abrir nossos olhos para a solução. No versículo 4, Agur faz outra pergunta, incitando os leitores a responderem e olharem na direção que necessitam: qual é o nome do que sabe de todas as coisas e tem poder sobre elas? O nome dEle é EU SOU! Somente o nosso Deus, Criador de todas as coisas é capaz de nos mostrar e ensinar a verdade absoluta e como devemos viver (sabedoria). O que nos leva imediatamente ao quarto degrau, ainda no versículo 4, que pergunta quem é seu filho. Israel aqui era esse filho, pois Deus os escolhera e os criara como filhos. E nós hoje? A promessa da Nova Aliança é que todos aqueles que confiam e se entregam a Jesus Cristo, o Filho Perfeito, lhes é dado o direito de se tornarem filhos de Deus (João 1.12).  Deus é o Pai-Professor sobre nós, que somos seus filhos-alunos. Aqui está uma mensagem preciosa: para alcançar a sabedoria, é preciso haver relacionamento com Deus. Não se alcança com um contato breve, mas com um contato contínuo.

Por último, no quinto degrau, os versículos 5 e 6 nos mostram que para permanecermos vivendo em sabedoria, é necessário nos refugiarmos na Palavra de Deus. É impossível viver na sabedoria de Deus estando distante ou deturpando Sua Palavra!

Busque essa sabedoria para tua vida, creia que somente o Deus Criador de todas as coisas é capaz de lhe abençoar com tamanha dádiva. Entenda também que para isso é necessário se relacionar com Ele! Não se distancie de Deus em sua caminhada, Ele é seu Pai-Professor.

Até a próxima!


& Bibliografia:
Bruce K. Waltke – Teologia do Antigo Testamento
Derek Kidner – Provérbios: Introdução e comentário

Clayton Silva Senziani




[1] Derek Kidner – Provérbios: Introdução e comentário. Página 172.
[2] Bruce K. Waltke – Teologia do Antigo Testamento. Página 1021.

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

MERGULHANDO EM PROVÉRBIOS #3 – O que é a sabedoria?

Se eu começasse perguntando para você qual é a primeira palavra que vem na sua cabeça quando falo “Provérbios”, muito provavelmente a grande maioria responderia sem demora: SABEDORIA. A palavra “sabedoria” (do hebraico, hokmâ) aparece 38 vezes em Provérbios, é a palavra-chave do livro. Portanto, dada a sua importância no texto bíblico, é muito importante também que compreendamos o que ela é de fato.

Resumindo em poucas palavras, a sabedoria é a virtude capaz de transformar todo o conhecimento humano em serviço a Deus e ao próximo. Ter posse da sabedoria significa capacidade de lidar com a vida[1], faz com que a pessoa consiga transformar seu entendimento/conhecimento em algo proveitoso para outros. O conceito de sabedoria expresso aqui em Provérbios é um conceito integral, ou seja, ele abraça todas as dimensões da vida do ser humano, ela não se concentra apenas no acúmulo de inteligência. É possível comprovarmos isso nos textos de Pv 1.3 e 8.20, onde nos mostra que ela proporciona um caminho de justiça e equidade. Martin Rösel diz:

No Antigo Testamento e em todo o antigo Oriente, ‘sabedoria’ é o esforço das pessoas para ordenar a realidade que as cerca, captá-la e explica-la para poder, assim, sentir-se abrigadas neste mundo”[2].

Para um melhor entendimento, vamos comparar a sabedoria bíblica de Provérbios com a ideia de sabedoria grega. Na concepção grega, sabedoria é competição, onde os sofistas (pessoas que dominavam a arte de falar em público) disputavam entre si para saber quem era mais sábio. Já na concepção bíblica, a sabedoria se evidencia no ato de fazer o bem e agir de forma justa (8.15), isto é, usar o conhecimento para fazer o que é correto. A sabedoria dá direção ao entendimento. Vemos essa sabedoria bem evidente em boa parte do governo de Salomão, onde ele soluciona crises e leva o povo a uma série de conquistas importantes.

É plenamente possível que uma pessoa decore diversos textos bíblicos, ter lido a Bíblia toda e, ainda assim, não ter sabedoria. O sinal da sabedoria bíblica numa pessoa é a capacidade de seus conhecimentos gerarem vida! A felicidade interior do homem só acontece quando ele alcança essa sabedoria (3.13)[3]. Até porque, a verdadeira sabedoria se dá a partir do temor do Senhor e no conhecer o Santo (9.10) e é impossível termos um genuíno encontro com Deus e continuarmos apenas nos contentando com um mero saber que não abençoa a vida de outras pessoas.

Faça um exercício agora, pense no conhecimento que o Senhor possibilitou que você adquirisse em sua vida até hoje. Como ele pode ser colocado a serviço do teu próximo? Lembre-se sempre, a sabedoria que vem do Senhor é uma sabedoria serva.


No próximo texto estudaremos sobre onde e como encontrar essa sabedoria. Até a próxima!


& Bibliografia:
Bruce K. Waltke – Teologia do Antigo Testamento
Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento – Edições Vida Nova
Martin Rösel – Panorama do Antigo Testamento: História, contexto e teologia


Clayton Silva Senziani



[1] Bruce K. Waltke – Teologia do Antigo Testamento. Página 1017.
[2] Martin Rösel – Panorama do Antigo Testamento: História, contexto e teologia. Página 195.
[3] Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento – Edições Vida Nova. Página 461.

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

MERGULHANDO EM PROVÉRBIOS #2 – A finalidade do livro e para quem foi escrito

No texto anterior vimos um pouco sobre a linguagem utilizada em todo livro, uma linguagem de sabedoria, usando de ditos populares para se falar a respeito das coisas de Deus. Neste texto de hoje, veremos um pouco sobre qual a finalidade de Provérbios e para quem o livro foi escrito. Isso para nós é muito bom conhecer, pois também abrirá nossos horizontes a saber como podemos aplicar esse livro na caminhada de discipulado de nossos dias.

Vemos logo na abertura do livro, no capítulo 1, a grande finalidade de sua existência, ela é resumida nos verbos que aparecem nos versículos 2-6. Leia com atenção e repare nos três primeiros verbos que aparecem nos versículos 2 e 3. Uma boa chave para entendermos a grande finalidade do livro está nesses verbos:

·      O primeiro verbo, traduzido por aprender (versão Almeida Revista e Atualizada), tem o sentido adquirir o conhecimento das coisas pelos sentidos[1]. Exemplo: descobrimos, pelos nossos sentidos, que se colocarmos sal na comida, ela ficará salgada.

·      O segundo verbo, entender, indica discernimento. É a capacidade de saber que algo não é bom para nós e nos afastamos daquilo, tem muito mais a ver com caráter do que QI[2]. Exemplo: ter a capacidade de provar da comida e discernir se ela está salgada demais, logo, se estiver salgada demais saberemos que não é bom come-la e nos afastamos.

·      O terceiro verbo, obter, indica tomar para si e guardar. É a capacidade de guardar o que recebeu para que não caia no esquecimento e se perca[3].

Portanto, a finalidade de Provérbios é fazer com que as pessoas não só tenham o conhecimento de como as coisas funcionam na vida, mas que também saibam separar o que é bom para elas do que não é. E as Escrituras nos mostram que é Deus quem gera esse discernimento na vida do ser humano (Salmo 119.34, 73 e Daniel 2.21), o malvado não é capaz de ter esse discernimento para sua vida[4]. Por isso que em Provérbios 1.7 finaliza-se a introdução apontando que o temor do Senhor é o princípio da sabedoria. Somente com Ele todo o saber se torna verdadeiramente útil.

Agora que já vimos um pouco da finalidade, resta-nos saber para quem foi escrito o livro. Na verdade, Provérbios não foi composto para uma pessoa em específico, mas sim para as famílias de Israel e que pudesse ser utilizado na educação no ambiente do lar (1.8-9; 4.1-9; 31.26b-27a...). Portanto, Provérbios é um livro para a educação dos jovens, onde Salomão coloca suas palavras de sabedoria inspiradas por Deus na boca dos pais[5]. Isso mostra para nós a preocupação do rei Salomão com a educação familiar.

E para nós hoje? Em tempos onde muitas famílias têm perdido o precioso costume de estudar da Bíblia juntos, Provérbios surge como uma ótima inspiração. Além disso, o livro também surge como uma inspiração ao discipulado nas igrejas, onde um membro mais antigo acolhe um mais novo para instruir sobre os ensinos do Senhor. Que tal usar Provérbios para tirar um tempo de discipulado com sua família e com irmãos e irmãs da igreja? Fica aqui a indicação!

Até o próximo texto!


Bibliografia:
Bruce K. Waltke – Teologia do Antigo Testamento
Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento – Edições Vida Nova
Tércio Machado Siqueira – Tirando o pó das palavras


Clayton Silva Senziani



[1] Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento – Edições Vida Nova. Página 597.
[2] Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento – Edições Vida Nova. Página 172-173.
[3] Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento – Edições Vida Nova. Página 793.
[4] Tércio Machado Siqueira – Tirando o pó das palavras. Página 136.
[5] Bruce K. Waltke – Teologia do Antigo Testamento. Página 1009-1011. 

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

MERGULHANDO EM PROVÉRBIOS #1 – A linguagem do livro

A ideia desse novo conjunto de textos é auxiliar você, que deseja se aventurar um pouco mais no estudo do livro de Provérbios, a conhecer melhor o panorama do livro e seu conteúdo. Quando vamos estudar a Bíblia, algumas informações são muito importantes para nos situarem no texto, o que nos ajuda muito na hora de interpretarmos as suas mensagens. Quando conhecemos melhor o contexto e o motivo pelo qual os textos foram escritos, temos uma melhor noção também do que essa revelação bíblica pode nos ensinar hoje.

Então vamos lá!

Neste primeiro texto abordaremos as características do texto de Provérbios. O livro se encontra na categoria dos Escritos da Bíblia Hebraica, que é uma categoria onde se encontram o que chamamos de livros poéticos (Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cantares). Essa primeira característica apontada já nos mostra uma das belezas das Escrituras que é sua diversidade literária, Deus fala através de maneiras diferentes para guiar seu povo (fala de uma forma nos livros históricos, de outra maneira nos livros proféticos, outra nos apocalípticos, poéticos...), basta você ler cada livro para notar a diferença de linguagem, o que mostra como nosso Deus é capaz de falar conosco. As Sagradas Escrituras são uma verdadeira riqueza literária de um Deus maravilhoso.

Provérbios é uma literatura de sabedoria, que se concentra mais na vida cotidiana das pessoas, questões que não são tratadas na Lei e nos profetas que tratam de assuntos de esferas mais acima, digamos assim. Provérbios traz uma abordagem para o dia-a-dia[1], como deve ser nossa relação com o trabalho, com o conhecimento, nos relacionamentos interpessoais, como administrar nosso tempo...(o que não significa que ele ignore a questão da eternidade, o que veremos nos próximos textos). Isso responde a alguns questionamentos levantados por algumas pessoas de que o livro de Provérbios é muito diferente dos outros livros da Bíblia, o que faz algumas pessoas até dizerem que é um livro humanista[2]. Isso é uma afirmação muito equivocada, pois Provérbios destaca logo em seu prólogo (isto é, introdução) que toda a sabedoria ali apresentada surge através do temor do Senhor (Pv 1.7). Sem a presença de Deus na vida do ser humano, ele nunca será capaz de alcançar tal sabedoria.

Vale ressaltar que, dizer que Deus falou de forma diferente pelos profetas e no livro de Provérbios, não significa dizer que eles se contradizem. O que muda é apenas a forma de expor a revelação, o conteúdo da verdade bíblica segue na mesma direção em todos eles. Bruce K. Waltke diz de maneira muito sensata: “Moisés, os profetas e os sábios eram verdadeiros parceiros espirituais (...). Falavam com a mesma autoridade e apresentavam aos seus ouvintes exigências religiosas e éticas semelhantes. Em suma, bebiam da mesma fonte espiritual[3].

            Concluindo esse primeiro texto de nossa série, convido você a fazer um exercício. Leia o livro de Provérbios atentando-se para sua linguagem. Compare com outros livros da Bíblia e note a diferença entre os textos. Compare, especialmente, com um livro histórico e um livro profético, se atente para os detalhes da variedade de formas de linguagem que Deus usa para falar com seu povo. Reflita também sobre as formas como Deus tem falado conosco hoje.

            Bons estudos!

No próximo texto, falaremos sobre a finalidade e para quem o livro foi escrito. 
Até a próxima!

Bibliografia:
Bruce K. Waltke – Teologia do Antigo Testamento
Derek Kidner – Provérbios: Introdução e Comentário
Martin Rösel – Panorama do Antigo Testamento: História, contexto e teologia

Clayton Silva Senziani



[1] Derek Kidner – Provérbios: Introdução e comentário. Página 13.
[2] Bruce K. Waltke – Teologia do Antigo Testamento. Página 1000.
[3] Bruce K. Waltke – Teologia do Antigo Testamento. Página 1008.