terça-feira, 14 de julho de 2015

A igreja que conquista a cidade

"Ganhar a cidade para Jesus", você com certeza já ouviu isso, mas o que significa isso para você? Na igreja somos estimulados a conquistar nossa cidade, somos motivados a pregar o evangelho, ir em busca de almas, mas tudo isso para o que exatamente? Para encher os templos? Será que o projeto de Deus para a humanidade se limita a encher um espaço?
Ao longo das Sagradas Escrituras, vemos a vontade de Deus inclinada para a justiça, misericórdia, amor... Vemos isso nos profetas levantados pelo Senhor para alertar o povo e seus governantes sobre a importância da justiça. Mas o que isso tem a ver com o questionamento acima? Simplesmente tudo a ver! Conquistar uma cidade para o Senhor não se resume a colocar 50% da população dentro do templo, vai muito além disso. É preciso discipulado para que as pessoas alcançadas pela mensagem transformadora do evangelho tenham reluzentes em suas vidas os valores do Reino de Deus. Não basta apenas ser sal, é preciso salgar! (Mt 5.13).
Ganhamos verdadeiramente uma cidade para Cristo quando levamos à ela os valores do Reino, quando em nosso papel de cidadãos transparecemos o amor e justiça de Deus. Uma cidade genuinamente conquistada por Cristo é uma cidade onde reina a justiça, mas isso só é alcançado quando cada um de nós se compromete a viver verdadeiramente a vida de Cristo, é necessária transformação verdadeira, é preciso santidade (1Pe 1.15). Santidade não se resume a abrir mão de certas práticas (corrupção, adultério, roubos, mentiras...) mas é também aderir práticas (amar, praticar justiça, viver a verdade...). Discípulos de Jesus transformam realidades quando vivem os ensinamentos recebidos, é impossível impactar uma cidade se os discípulos, um a um, não forem transformados pelo poder do Espírito Santo de Deus. A igreja precisa saber "olhar além das quatro paredes", perdemos muito tempo e gastamos muitos esforços quando apenas canalizamos nossas forças em atividades somente para dentro das igrejas.
Não é intenção deste texto afirmar que a igreja reunida seja desnecessário ou obsoleto, muito pelo contrário. A igreja tem um papel fundamental no que tange o discipulado. Nas comunidades aprendemos a importância de viver como Cristo no ensinou, e recebemos também seus ensinamentos. O templo é um lugar de instrução, de comunhão, onde desfrutamos, ao lado de outros irmãos, a presença de Deus e seu poder. Mas viver para Cristo não se limita somente a isso.
Uma igreja que busca conquistar a cidade onde está precisa ter uma visão ampla, precisa entender sua responsabilidade em transbordar a graça de Deus. Foi citado neste texto que devemos salgar a terra, e Jesus foi muito claro em dizer que já somos o sal, mas também concluiu afirmando que o sal pode se tornar insípido. A igreja já é o sal, mas ela tem salgado? O sal perde seu sabor quando misturado com outras substâncias diferentes das suas. A igreja perde seu potencial e diferencial quando permite misturar em si valores que não são os de Cristo.
A responsabilidade está em nossas mãos, precisamos entender que a transformação deve começar em cada um de nós. Uma igreja que ganha a cidade é uma igreja de indivíduos transformados e que vivem no seu cotidiano os valores do Reino de Deus. E finalizo com uma fala do pastor Ariovaldo Ramos: "Queremos que mesmo os que não se converterem sejam afetados pela presença de Deus na cidade e que, por causa da palpabilidade desta presença, pensem muito antes de levantar-se contra a vontade de Deus".

Clayton Senziani

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Multiplicação... para quem?

Texto: Marcos 6.30-44

            O relato da multiplicação dos pães e peixes aparece nos quatro evangelhos, mas meu texto favorito é o de Marcos por conter alguns elementos que acho muito interessante, como por exemplo, o fato de Jesus ter escolhido ir para aquele lugar para descansar junto com seus discípulos (v.31). Talvez isso possa ser, para alguns, um detalhe isolado do texto, mas na verdade é algo que merece ser observado, pois mesmo Jesus estando num lugar que ele escolheu para repousar, isso não o impediu de fazer daquele lugar um lugar de serviço aos necessitados. Jesus poderia ter aberto mão de atender as necessidades daquelas pessoas que o seguiram até aquele lugar, por estar cansado, mas essa não foi a opção escolhida por Ele.
            No versículo 37 chegamos onde começa o desafio maior do relato. Após ter ensinado o povo e curado seus enfermos, Jesus desafia seus discípulos a alimentarem aquela multidão. A ideia é confrontada com ironia por eles (v.37), mas Jesus insiste. Então ele pega aquilo que os discípulos tinham em mãos para alimentar aquela multidão: 5 pães e 2 peixes. O pastor Ariovaldo Ramos fala algo que deve nos fazer pensar com relação a esse cenário: “Quando dá o desafio, Deus dá também a provisão, mesmo que a primeira vista pareça absolutamente insuficiente[1]. Poderia parecer loucura, mas era com aqueles elementos que os discípulos alimentariam a multidão.
            O final já conhecemos, os pães e peixes são multiplicados, o povo come e sobra. A multiplicação se deu para servir aquela multidão faminta. Ao olharmos da perspectiva de Jesus e seus discípulos, vemos que a multiplicação não veio para que eles ostentassem alimento, mas sim para que houvesse partilha. Vivemos uma dura realidade onde muito se ouve falar em buscar as bênçãos de Deus mas sem gerar junto um sentimento de cuidado para com o próximo. Para que buscar a multiplicação? Para guardar para mim apenas? Prosperidade, na Bíblia Hebraica, não é necessariamente obter vantagens pessoais ou acumular riquezas, mas sim promover a paz de Deus (shallom) na terra, entre as pessoas[2]. Ser próspero é ser um abençoado que partilha, que abençoa quem está a volta.
            Desafio você, leitor, a começar a ler as Sagradas Escrituras com olhar de servo de Deus e também do próximo. Uma das grandes crises da igreja contemporânea é que vivemos uma escassez de servos, pessoas cada vez mais querem ser servidas por Deus e se esquecem de servir ao próximo. Jesus amou compassivamente aquelas pessoas famintas, precisamos ser como Jesus. Temos que entender a fome que marca as pessoas ao nosso redor, perceber as consequências dessa fome e tornar nossa igreja um lugar de refúgio para essas pessoas, onde o amor de Deus se manifesta em nossas vidas[3].

Clayton Senziani



[1] RAMOS, Ariovaldo. Ação da Igreja na Cidade. São Paulo, SP: Hagnos 2009. P. 26.
[2] SIQUEIRA, Tércio Machado. Tirando o pó das palavras: história e teologia de palavras e expressões bíblicas. São Paulo: Cedro, 2005. p. 143.
[3] RAMOS, Ariovaldo. Ação da Igreja na Cidade. São Paulo, SP: Hagnos 2009. P. 27.