Texto: Marcos 6.30-44
O relato da multiplicação dos pães e
peixes aparece nos quatro evangelhos, mas meu texto favorito é o de Marcos por
conter alguns elementos que acho muito interessante, como por exemplo, o fato
de Jesus ter escolhido ir para aquele lugar para descansar junto com seus
discípulos (v.31). Talvez isso possa ser, para alguns, um detalhe isolado do
texto, mas na verdade é algo que merece ser observado, pois mesmo Jesus estando
num lugar que ele escolheu para repousar, isso não o impediu de fazer daquele
lugar um lugar de serviço aos necessitados. Jesus poderia ter aberto mão de
atender as necessidades daquelas pessoas que o seguiram até aquele lugar, por
estar cansado, mas essa não foi a opção escolhida por Ele.
No versículo 37 chegamos onde começa
o desafio maior do relato. Após ter ensinado o povo e curado seus enfermos,
Jesus desafia seus discípulos a alimentarem aquela multidão. A ideia é
confrontada com ironia por eles (v.37), mas Jesus insiste. Então ele pega
aquilo que os discípulos tinham em mãos para alimentar aquela multidão: 5 pães
e 2 peixes. O pastor Ariovaldo Ramos fala algo que deve nos fazer pensar com
relação a esse cenário: “Quando dá o
desafio, Deus dá também a provisão, mesmo que a primeira vista pareça
absolutamente insuficiente”[1]. Poderia parecer loucura,
mas era com aqueles elementos que os discípulos alimentariam a multidão.
O final já conhecemos, os pães e
peixes são multiplicados, o povo come e sobra. A multiplicação se deu para
servir aquela multidão faminta. Ao olharmos da perspectiva de Jesus e seus
discípulos, vemos que a multiplicação não veio para que eles ostentassem
alimento, mas sim para que houvesse partilha. Vivemos uma dura realidade onde
muito se ouve falar em buscar as bênçãos de Deus mas sem gerar junto um
sentimento de cuidado para com o próximo. Para que buscar a multiplicação? Para
guardar para mim apenas? Prosperidade, na Bíblia Hebraica, não é
necessariamente obter vantagens pessoais ou acumular riquezas, mas sim promover
a paz de Deus (shallom) na terra, entre as pessoas[2]. Ser próspero é ser um
abençoado que partilha, que abençoa quem está a volta.
Desafio você, leitor, a começar a
ler as Sagradas Escrituras com olhar de servo de Deus e também do próximo. Uma
das grandes crises da igreja contemporânea é que vivemos uma escassez de
servos, pessoas cada vez mais querem ser servidas por Deus e se esquecem de
servir ao próximo. Jesus amou compassivamente aquelas pessoas famintas,
precisamos ser como Jesus. Temos que entender a fome que marca as pessoas ao
nosso redor, perceber as consequências dessa fome e tornar nossa igreja um
lugar de refúgio para essas pessoas, onde o amor de Deus se manifesta em nossas
vidas[3].
Clayton Senziani
[1]
RAMOS, Ariovaldo. Ação da Igreja na
Cidade. São Paulo, SP: Hagnos 2009. P. 26.
[2] SIQUEIRA,
Tércio Machado. Tirando o pó das palavras: história e teologia de palavras e
expressões bíblicas. São Paulo: Cedro, 2005. p. 143.
[3] RAMOS,
Ariovaldo. Ação da Igreja na Cidade.
São Paulo, SP: Hagnos 2009. P. 27.
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