quarta-feira, 1 de julho de 2015

Multiplicação... para quem?

Texto: Marcos 6.30-44

            O relato da multiplicação dos pães e peixes aparece nos quatro evangelhos, mas meu texto favorito é o de Marcos por conter alguns elementos que acho muito interessante, como por exemplo, o fato de Jesus ter escolhido ir para aquele lugar para descansar junto com seus discípulos (v.31). Talvez isso possa ser, para alguns, um detalhe isolado do texto, mas na verdade é algo que merece ser observado, pois mesmo Jesus estando num lugar que ele escolheu para repousar, isso não o impediu de fazer daquele lugar um lugar de serviço aos necessitados. Jesus poderia ter aberto mão de atender as necessidades daquelas pessoas que o seguiram até aquele lugar, por estar cansado, mas essa não foi a opção escolhida por Ele.
            No versículo 37 chegamos onde começa o desafio maior do relato. Após ter ensinado o povo e curado seus enfermos, Jesus desafia seus discípulos a alimentarem aquela multidão. A ideia é confrontada com ironia por eles (v.37), mas Jesus insiste. Então ele pega aquilo que os discípulos tinham em mãos para alimentar aquela multidão: 5 pães e 2 peixes. O pastor Ariovaldo Ramos fala algo que deve nos fazer pensar com relação a esse cenário: “Quando dá o desafio, Deus dá também a provisão, mesmo que a primeira vista pareça absolutamente insuficiente[1]. Poderia parecer loucura, mas era com aqueles elementos que os discípulos alimentariam a multidão.
            O final já conhecemos, os pães e peixes são multiplicados, o povo come e sobra. A multiplicação se deu para servir aquela multidão faminta. Ao olharmos da perspectiva de Jesus e seus discípulos, vemos que a multiplicação não veio para que eles ostentassem alimento, mas sim para que houvesse partilha. Vivemos uma dura realidade onde muito se ouve falar em buscar as bênçãos de Deus mas sem gerar junto um sentimento de cuidado para com o próximo. Para que buscar a multiplicação? Para guardar para mim apenas? Prosperidade, na Bíblia Hebraica, não é necessariamente obter vantagens pessoais ou acumular riquezas, mas sim promover a paz de Deus (shallom) na terra, entre as pessoas[2]. Ser próspero é ser um abençoado que partilha, que abençoa quem está a volta.
            Desafio você, leitor, a começar a ler as Sagradas Escrituras com olhar de servo de Deus e também do próximo. Uma das grandes crises da igreja contemporânea é que vivemos uma escassez de servos, pessoas cada vez mais querem ser servidas por Deus e se esquecem de servir ao próximo. Jesus amou compassivamente aquelas pessoas famintas, precisamos ser como Jesus. Temos que entender a fome que marca as pessoas ao nosso redor, perceber as consequências dessa fome e tornar nossa igreja um lugar de refúgio para essas pessoas, onde o amor de Deus se manifesta em nossas vidas[3].

Clayton Senziani



[1] RAMOS, Ariovaldo. Ação da Igreja na Cidade. São Paulo, SP: Hagnos 2009. P. 26.
[2] SIQUEIRA, Tércio Machado. Tirando o pó das palavras: história e teologia de palavras e expressões bíblicas. São Paulo: Cedro, 2005. p. 143.
[3] RAMOS, Ariovaldo. Ação da Igreja na Cidade. São Paulo, SP: Hagnos 2009. P. 27.

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